16 de fevereiro de 2016

Quarta-feira de Cinzas


O mesmo céu, o mesmo rio; outro ponto de vista.


Chegar a Lisboa com frio e chuva e por outro caminho parece que não é chegar a Lisboa.

A cidade é toda obras e guindastes, o céu não é o da memória e Alfama, definitivamente, não é o meu bairro, nem a minha freguesia. Não é a minha casa, mas estou feliz.

Agora andamos por ruas que não conhecemos tão bem, subimos as ladeiras às costas do amigo que parece prefeito, abraços e apertos de mão a dois por quatro.

Enquanto isso a Mangueira venceu o Carnaval, a chuva parou e o Palmeira – restaurante com mais de 60 anos e que ostenta até hoje em sua fachada as marcas do “Grande incêndio do Chiado de 1988” – fechou. O cartaz na porta informa que o motivo são reformas, mas um texto do Buzfeed me explica que o estabelecimento provavelmente cerrou as portas para sempre e que o último dia de funcionamento foi 23 de dezembro de 2015. Para mim o Palmeira era a possibilidade de almoçar depois das 16h, quando todos os demais restaurantes já não serviam almoço. Palmeira era sinônimo de tremoços, imperiais e esparregado. Diz que o edifício onde ele funcionava foi comprado por um investidor e que “nada se sabe sobre os próximos projetos”.

Já o Cabaças segue funcionando, assim como a memória do Rubens, que me abraça, diz meu nome e minutos depois aponta no cardápio o peixe que comi da última vez que cá estive – há dois anos – e do qual gostei: pargo grelhado.

Rubens voou uma única vez de avião; Mato Grosso – Lisboa. Há 15 anos está aqui.

Antes morávamos no número 12 da Rua das Gáveas; agora estamos hospedados no 13 do Largo de Santo Estêvão.

Na Casa dos Bicos a guarda de segurança avisa à administração que uma senhora (eu) pede informações sobre uma oficina. Gostava mais quando me chamavam de “menina”.

Abriram um cinema de bairro no bairro que não é mais meu. Nele assisto a um documentário chileno que olha para os astros e para as areias do deserto, para o passado, os silêncios e o futuro.

Já eu tenho os olhos cheios d’água quando olho para o meu luso-brasileiro com a sobrinha no colo. E esse é só o começo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário