O mesmo céu, o mesmo rio; outro ponto de vista. |
Chegar a Lisboa com frio e chuva e por outro caminho parece
que não é chegar a Lisboa.
A cidade é toda obras e guindastes, o céu não é o da memória
e Alfama, definitivamente, não é o meu bairro, nem a minha freguesia. Não é a
minha casa, mas estou feliz.
Agora andamos por ruas que não conhecemos tão bem, subimos as
ladeiras às costas do amigo que parece prefeito, abraços e apertos de mão a
dois por quatro.
Enquanto isso a Mangueira venceu o Carnaval, a chuva parou e
o Palmeira – restaurante com mais de 60 anos e que ostenta até hoje em sua
fachada as marcas do “Grande incêndio do Chiado de 1988” – fechou. O cartaz na
porta informa que o motivo são reformas, mas um texto do Buzfeed me explica que
o estabelecimento provavelmente cerrou as portas para sempre e que o último dia
de funcionamento foi 23 de dezembro de 2015. Para mim o Palmeira era a possibilidade
de almoçar depois das 16h, quando todos os demais restaurantes já não serviam
almoço. Palmeira era sinônimo de tremoços, imperiais e esparregado. Diz que o
edifício onde ele funcionava foi comprado por um investidor e que “nada se sabe
sobre os próximos projetos”.
Já o Cabaças segue funcionando, assim como a memória do
Rubens, que me abraça, diz meu nome e minutos depois aponta no cardápio o peixe
que comi da última vez que cá estive – há dois anos – e do qual gostei: pargo
grelhado.
Rubens voou uma única vez de avião; Mato Grosso – Lisboa. Há
15 anos está aqui.
Antes morávamos no número 12 da Rua das Gáveas; agora
estamos hospedados no 13 do Largo de Santo Estêvão.
Na Casa dos Bicos a guarda de segurança avisa à
administração que uma senhora (eu) pede informações sobre uma oficina. Gostava
mais quando me chamavam de “menina”.
Abriram um cinema de bairro no bairro que não é mais meu. Nele
assisto a um documentário chileno que olha para os astros e para as areias do
deserto, para o passado, os silêncios e o futuro.
Já eu tenho os olhos cheios d’água quando olho para o meu
luso-brasileiro com a sobrinha no colo. E esse é só o começo.
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